Se o desmatamento fosse um país, seria a terceira maior fonte de emissões climáticas do mundo. Enquanto a COP26 ocorre em Glasgow, líderes empresariais e governos falam muito sobre a importância de proteger as florestas, e sobre parar o financiamento que alimenta essa destruição. Isto acontece dentro de um contexto de proliferação de iniciativas voluntárias.

ONGs e comunidades estão cansadas de procurar bancos, investidores e gestores de ativos específicos com relatos detalhados, e muitas vezes horríveis, de destruição de florestas e abusos de direitos humanos associados aos seus financiamento. Na maioria das vezes, os pedidos de ação das comunidades são totalmente ignorados. As instituições financeiras acumulam grandes lucros e muitas vezes continuam financiando a mesma empresa por trás dessa destruição nos anos seguintes. A maioria das instituições financeiras não incorporaram transparência básica na forma como trabalham, o que significa que dificilmente sabemos o quê, e quem, financiam. Pouco ou nada muda para as florestas ou as comunidades prejudicadas, e o ciclo continua.

Essa é a razão pela qual os compromissos corporativos voluntários para florestas continuam a falhar. De acordo com a análise da coalizão Florestas e Finanças, o crédito para empresas de risco de desmatamento aumentou 155% no primeiro semestre de 2021 em comparação com o mesmo período de 2020. O preço das ações e os ratings de crédito de algumas das piores empresas ligadas ao desmatamento continuam a disparar. Muitas instituições financeiras líderes que se comprometeram a tornar o desmatamento uma prioridade, o fizeram meramente aumentando as conversas com empresas envolvidas em práticas ilegais, mas não excluíram essas empresas de carteiras ou de financiamentos, não votaram contra os diretores dessas empresas, e não tomaram outras ações significativas que levariam a mudanças substanciais.

É perigoso, para não mencionar greenwashing (lavagem de imagem verde), celebrar essas mesmas instituições financeiras como "líderes" na proteção de florestas. Especialmente quando esta "liderança" envolve pouco mais do que assinar uma política voluntária que segue a mesma fórmula fracassada. Não se pode mais esperar que as comunidades afetadas e as organizações de comunidades locais assumam o ônus das falhas do setor financeiro.

Para distinguir soluções falsas de mudanças reais, é necessário fazer algumas perguntas básicas:
  1. Os povos indígenas e outras comunidades tradicionais - os verdadeiros especialistas em salvar florestas - estiveram no centro da concepção da dita solução e eles acham que funcionará?
  2. O respeito aos direitos humanos das comunidades da floresta e de outros detentores de direitos é considerado essencial para combater o desmatamento?
  3. As comunidades sabem quem está financiando atividades em suas áreas e os financiadores são transparentes sobre o quê e quem financiam nos setores de risco de desmatamento?
  4. As instituições financeiras estão impedidas de manter os lucros atrelados ao desmatamento?
  5. As instituições financeiras são obrigadas a compensar as comunidades e as florestas prejudicadas? Isso inclui as comunidades que hoje estão levantando preocupações com eles?
  6. As instituições financeiras são obrigadas a acabar com sua cumplicidade no desmatamento agora? (o que significa que não podem haver lacunas que atrasem a ação até 2025, 2030 ou 2050)
  7. As instituições financeiras são responsáveis por suas ações e enfrentam repercussões por más práticas?

Além disso, reconhecendo a diversidade de ecossistemas ameaçados pela expansão de agrocommodities industriais, quaisquer medidas que visem o desmatamento em indústrias de risco florestal devem igualmente se aplicar à degradação florestal, impactos em turfeiras e outros ecossistemas e habitats sensíveis.

Não precisamos destruir florestas para alimentar as pessoas ou para fazer crescer as economias locais - na verdade, manter as florestas em pé é a chave para manter os sistemas climáticos, fluxos de água e biodiversidade essenciais para uma agricultura saudável. Também não precisamos de governos passivos que defendam iniciativas voluntárias ou regras para relatórios de risco que pressupõem que as instituições financeiras resolverão os problemas por iniciativa própria. Precisamos que os governos liderem e introduzam regulamentações que imponham obrigações vinculantes às instituições financeiras para interromper o fluxo de dinheiro que leva à destruição das florestas remanescentes do mundo.


Signatários

·         Friends of the Earth International

·         TuK INDONESIA

·         Global Witness

·         Rainforest Action Network

·         Greenpeace

·         ActionAid USA

·         BankTrack

·         Amazon Watch

·         Leefmilieu

·         Family Farm Defenders

·         ARA (Arbeitsgemeinschaft Regenwald & Artenschutz)

·         Canopy

·         trend asia

·         Food in Neighborhoods Community Coalition

·         Inclusive Development International

·         Sunrise Kids NYC

·         Re-nourish

·         Citizens' climate lobby, United university professions

·         Earthday.org

·         Coastal Plain Conservation Group

·         TIAA-Divest! from Climate Destruction

·         Stand.earth

·         Spruill Farm Conservation Project.

·         Rural Vermont

·         Middle Sound Lookout

·         Society for Responsible Design Inc.

·         Rainforest Foundation UK

·         Network for Social Justice and Human Rights

·         Biodiversity Conservation Center

·         Climate Finance Action

·         Colectivo VientoSur

·         RRA

·         Pro REGENWALD

·         Borneo Orangutan Survival BOS Deutschland e.V.

·         Bruno Manser Fonds

·         Save Estonia's Forests