Os experimentos da Global Witness, em que foram enviados anúncios contendo desinformação eleitoral para aprovação do YouTube e do Facebook, revelam que:

  • Todos os anúncios contendo desinformação eleitoral postados no YouTube foram aprovados para publicação
  • Metade dos anúncios, todos previamente testados e sinalizados publicamente, foram aprovados pelo Facebook

20th October 2022, London - Grandes empresas de redes sociais, como YouTube e Facebook, ainda permitem que informações completamente falsas sobre a eleição presidencial brasileira sejam publicadas livremente, apesar de repetidos avisos, de acordo com a Global Witness.

É o terceiro experimento desse tipo que a Global Witness realiza durante as tensas eleições brasileiras. Em agosto, 100% dos anúncios enviados para o Facebook foram aprovados para publicação, incluindo alguns com informações incorretas sobre a data da votação, além de outros questionando a credibilidade da eleição e convocando as pessoas a não votar. 

No mês passado, metade dos mesmos anúncios enviados ao Facebook foram novamente aprovados para publicação e, neste último teste realizado após o primeiro turno, 50% dos anúncios foram novamente aprovados, incluindo alguns que haviam sido rejeitados anteriormente.  

Desta vez, o experimento foi ampliado para incluir o YouTube, e todos os anúncios testados foram aprovados pela plataforma, que pertence ao Google. Anúncios alegando que em alguns locais a data do segundo turno havia passado de 30 para 31 de outubro e que o resultado da eleição já estava definido foram aprovados para publicação no YouTube. 

Jon Lloyd, consultor sênior da Global Witness, disse:

“É absolutamente chocante que essas grandes empresas, apesar de toda a sua competência tecnológica, sejam incapazes de evitar que seus usuários sejam bombardeados por informações falsas tão gritantes. No caso do Facebook, alguns dos mesmos anúncios foram aprovados não uma, nem duas, mas três vezes.”

“Se ainda não era óbvio, agora é inegável até mesmo para os maiores céticos o fracasso retumbante das redes sociais em cumprir com sua responsabilidade de impedir que os processos democráticos sejam prejudicados por informações propositalmente falsas e mentirosas. Esses alertas não são nenhuma novidade e não há mais desculpas para empresas como Facebook e YouTube não fazerem a sua parte.”

“Esta votação fundamental para o Brasil foi marcada por um enorme aumento na violência política, assassinatos, ameaças e sequestros. É triste constatar que esse ambiente tenso tenha sido alimentado pela internet. As questões levantadas aqui não são simplesmente hipóteses do que poderia acontecer. São coisas que já estão acontecendo.”

É muito preocupante que, mais uma vez, a Meta não tenha conseguido identificar que os anúncios foram postados de fora do Brasil, a partir de contas que não passaram pelo processo de “autorização de anúncio” – um requisito para qualquer conta publicar conteúdo relacionado a eleições. 

A cada experimento, a Global Witness publicou suas descobertas na mídia brasileira e internacional, além de informar o Facebook sobre os pontos fracos de suas defesas contra a desinformação.

Em resposta à investigação inicial da Global Witness em agosto, o Facebook disse   que “proibirá anúncios questionando a legitimidade das próximas eleições” – uma reformulação de uma política já existente. Seguindo esta última evidência, a Global Witness está novamente convocando Meta e Google, proprietárias do Facebook e do YouTube, para:

  • Aumentar urgentemente os recursos de moderação de conteúdo e os sistemas de integridade implantados para mitigar o risco antes, durante e depois das próximas eleições brasileiras – e garantir que os moderadores falem português e entendam a cultura brasileira. 
  • Disponibilizar recursos adequados de moderação de conteúdo em todos os seus países de atuação. Isso inclui dar aos moderadores de conteúdo pago um salário justo, apoio psicológico e permissão para que se sindicalizem.
  • Fortalecer imediatamente seu processo de verificação de contas de anúncios para identificar melhor aquelas que publicam conteúdo prejudicial à integridade das eleições.
  • Incluir detalhes completos de todos os anúncios (incluindo público-alvo pretendido, público real, gastos com os anúncios e comprador dos anúncios) em sua biblioteca de anúncios.
  • Permitir auditoria independente de terceiros para que a Meta e Google tenha de prestar contas pelo que alega estar fazendo.
  • Publicar sua avaliação de risco pré-eleitoral para o Brasil.