Apenas alguns dias após ataques violentos e antidemocráticos no Brasil, o Facebook aprovou para publicação anúncios que incentivavam as pessoas a pegarem em armas e invadirem prédios do governo, contendo ameaças de morte explícitas contra apoiadores de Lula e seus filhos, e denunciando as eleições como sendo fraudadas, de acordo com novos achados da Global Witness.

De dezesseis propagandas testadas pela Global Witness na plataforma, apenas duas foram rejeitadas. As aprovadas incluíam textos em português que diziam “precisamos tirar os ratos que tomaram o poder e matá-los”, “Morte aos filhos de eleitores do Lula” e “Eles deviam estar presos ou mortos e enterrados, e não no Palácio do Planalto!”. A Global Witness apagou as publicidades antes que elas fossem divulgadas pela plataforma.

Enquanto o Facebook aprovou 87 por cento dos anúncios testados, o YouTube passou pelo mesmo experimento e não permitiu que nenhuma das publicidades fosse ao ar, suspendendo as contas que a Global Witness utilizou para publicação.

Esse experimento foi realizado dias após milhares de apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro invadirem violentamente prédios do governo em Brasília, com protestos violentos que foram incentivados e organizados através de postagens em redes sociais.

Rosie Sharpe, Ativista Contra Ameaças Digitais da Global Witness, relatou:

“Após a violência em Brasília, o Facebook declarou que estava ‘monitorando ativamente’ a situação e removendo conteúdos que violassem suas políticas. Esse experimento demonstra a incapacidade da plataforma em cumprir suas próprias promessas. É inaceitável que o conteúdo violento que utilizamos para o experimento seja aprovado para publicação por uma rede social tão expressiva, como é o Facebook.

“Esta tentativa de reverter os resultados das eleições foi instigada, organizada e incentivada através da internet. Com o fracasso do Facebook em lidar com isso, a democracia brasileira foi posta em risco. A resposta muito mais firme do YouTube demonstra que é possível ser aprovado no nosso experimento.

“Sabemos, a partir dos Facebook Files, que o Facebook utilizou medidas emergenciais à época da invasão do Capitólio nos Estados Unidos em 2021. Se o Facebook realmente está comprometido em proteger a democracia, precisa confirmar que está aplicando as mesmas medidas contra ameaças à democracia em outros países.”

Antes das eleições presidenciais do Brasil no ano passado, a Global Witness realizou três diferentes experimentos que revelaram como o Facebook e o YouTube fracassam em detectar informações falsas sobre as eleições. Em agosto, 100 por cento dos anúncios enviados pela Global Witness para o Facebook foram aprovados para publicação, incluindo publicidades que divulgavam a data errada da votação e questionavam a credibilidade das eleições.

Em setembro, metade de um novo conjunto de anúncios enviados pela Global Witness para o Facebook foram aprovados para publicação, e em outubro, antes do segundo turno, cada um dos anúncios contendo informações falsas sobre as eleições enviadas pela organização para o YouTube foram aprovados para publicação.

Diante da violência em Brasília, a Global Witness clama para que o Facebook e outras plataformas de redes sociais implementem medidas emergenciais imediatamente, divulgando publicamente que ações estão sendo tomadas para combater a divulgação de informações falsas e incentivos à violência no Brasil, e como tais esforços estão sendo subsidiados.

A Global Witness escreveu para a empresa proprietária do Facebook, a Meta, para que pudessem ter uma oportunidade de resposta, e um representante respondeu que “Esta pequena amostra de anúncios não é representativa de como implementamos nossas políticas na plataforma. Como já dissemos no passado, anteriormente às eleições brasileiras deste último ano, removemos centenas de milhares de conteúdos que violaram nossas políticas relativas a violência e incitação, e rejeitamos dezenas de milhares de anúncios antes que fossem publicados. Utilizamos tecnologias e recursos humanos para ajudar a manter nossas plataformas livres de abuso e estamos constantemente aperfeiçoando nossos procedimentos para fiscalizar nossas políticas em grande escala.”